RADFEMS E BOLSONARISMO, TUDO A VER!
À primeira vista, esse título pode parecer contraditório. Talvez você se questione: “Mas o feminismo não é de esquerda? E o bolsonarismo, não é de direita?” Não podemos dar uma resposta direta sem antes analisar o que é o identitarismo.
Quando falamos de identitarismo, podemos tomar emprestada a definição feita pelo filósofo Paulo Ghiraldelli, que diz que um grupo toma sua identidade desconsiderando a identidade do grupo maior onde está inserida. Seja de gênero, religião ou étnica: a imagem dessa identidade é sobreposta à de grupos universais. De acordo com o filósofo, antes de ser mulher e negro, o indivíduo faz parte de uma identidade coletiva, nacional.
Podemos usar como exemplo público uma mulher que assume uma cargo com a proposta de defender os interesses femininos, mas que acaba reproduzindo frases como “machismo” nas suas redes sociais ou até mesmo o “lugar de fala” que só ela tem por ser mulher. Perde-se completamente a noção de semântica, de capacidade de diálogo e convencimento daqueles que não fazem parte dessa minoria, ou seja, quebra-se a relação dialética com o todo . De forma autoritária, impõe-se a ideia de que, você é homem, deve se calar, senão será acusado de “mansplaining”, e de ser como todo indivíduo do sexo masculino: mau, e em casos mais extremos, um “estuprador em potencial”.
O movimento feminista, surgido para reivindicar direitos às mulheres, tem como uma de suas figuras importantes a filosofa Simone de Beauvoir. Ela nunca impôs sua identidade de mulher. Suas ideias, inclusive, têm aspectos existencialistas influenciados por Jean-Paul Sarte, seu marido.
Assim como no bolsonarismo, o identitarismo pode ser um chamariz para pessoas frustradas, ressentidas, incapazes de fazer uma apreciação estética de uma obra de arte, de um texto, e que imponham regras moralistas sobre os corpos, sobre a linguagem corrente. Não é preciso pesquisar muito para encontrarmos ex-integrantes do grupo “Femen” que hoje são militantes armamentistas ou deputadas bolsonaristas.
Houve recentemente o ato de vandalismo no Planalto, onde uma senhora defecou sobre um computador no Congresso. Há alguns anos, na frente do Masp, mulheres colocavam um crucifixo no ânus e também defecavam e urinavam sobre uma foto do então candidato à presidência Jair Bolsonaro, justificando o ato como sendo uma peça de teatro. Isso causa repulsa na população, afastando-a das esquerdas. Nem todo brasileiro possui formação sobre política. Se esse tipo de grupo surge diante da população como sendo A esquerda, a tal “arminha com a mão” começa a parecer algo razoável como contraponto. Em 2018, Bolsonaro não fez nada menos de 57 milhões de votos.
Se não conseguirmos conter o identitarismo, a esquerda será abandonada, ela mesma se destruirá. A partir disso, tipos como Bolsonaro ganharão a população. Para o feminismo, são necessárias pautas inteligentes, aprofundamento, estudo e articulação a favor de mulheres em situação de pobreza, de violência, com projetos sólidos e não com puro vitimismo e patrulhamento ideológico. É essa a proposta de uma esquerda reflexiva que toma o movimento feminista pensando com seriedade suas reivindicações.
Jessica Bittencourt
Indicações de vídeos:
Identitarismo, minorias e políticas de esquerda: https://www.youtube.com/watch?v=7MeK7UPikjY
Identitarismo é neoliberalismo encaminhado para o neofascismo: https://www.youtube.com/watch?v=c-vZwD2V4CQ
O Identitarismo não é de esquerda:
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